Honraria foi concedida pela Câmara de Vereadores em sessão solene, ontem (29)
Na noite desta quarta-feira (29), o médico Dietrich Rupprecht Seyboth, conhecido popularmente como “Doutor Hippi”, foi homenageado com o título de Cidadão Honorário de Marechal Cândido Rondon. A cerimônia, organizada pelo Poder Legislativo, aconteceu no auditório da Acimacar.
O evento foi bastante prestigiado, com a presença de familiares, amigos, lideranças locais e representantes de diversas entidades. O Poder Executivo esteve representado pelo secretário municipal de Administração, Valmir Monteiro. Também compuseram a frente de honra os ex-prefeitos Marcio Rauber e Dieter Seyboth — este, irmão do homenageado.
A honraria foi concedida por meio do Projeto de Decreto-Legislativo 3/2023, de autoria dos vereadores João Eduardo dos Santos (Juca) e Arion Nasihgil, como reconhecimento pelos relevantes serviços prestados à comunidade rondonense ao longo de cinco décadas de atuação médica.
Em seus pronunciamentos durante a cerimônia, Arion Nasihgil, Juca e o vereador presidente, Valdir Sachser (Valdirzinho), destacaram não apenas o legado profissional do Doutor Hippi, mas também o profundo engajamento com a comunidade. Segundo eles, a trajetória do médico perpetua o espírito empreendedor e a dedicação social da família Seyboth desde o início da colonização de Marechal Cândido Rondon e do Oeste do Paraná.
O discurso do mais novo Cidadão Honorário foi lido pela filha Ana Carolina Seyboth. Um dos momentos mais marcantes foi a mensagem que Doutor Hippi — que nesta semana completou 80 anos — direcionou à juventude rondonense.
“Se me permitem uma palavra aos mais jovens: estudem. Encontrem uma causa. Cuidem das instituições. A cidade precisa de vocês, sempre. E, quando a vida exigir uma decisão difícil, lembrem: o interior do Brasil também é lugar de excelência, de ciência, de oportunidades e de humanidade.”
Biografia
Nascido na Alemanha em 1945, Doutor Hippi chegou à antiga Vila de General Rondon em 1952 com os pais Friedrich e Ingrun Seyboth, pioneiros que fundaram o primeiro hospital da região, hoje conhecido como Hospital e Maternidade Filadélfia.
Formado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP) em 1972, com especializações em Anestesiologia, Emergência Médica e Gestão de Bancos de Sangue, retornou a Marechal Cândido Rondon em 1974, onde atuou como médico generalista e anestesiologista, atendendo milhares de pacientes e contribuindo para o desenvolvimento da saúde local.
Além da atuação clínica, também foi sócio administrador dos hospitais Marechal Cândido Rondon e Filadélfia, e integrou o quadro societário de outras empresas da área da saúde.
Recentemente, foi agraciado com o Prêmio de Mérito Ético Profissional pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), em reconhecimento à sua atuação exemplar. Membro mais antigo do Lions Club Marechal Cândido Rondon, Doutor Hippi também é conhecido pelo envolvimento em ações sociais e comunitárias. Casado com Maria Carolina Rossi Hildebrand Seyboth, é pai de Ana Carolina, Ricardo, Ana Cecília e Eduardo, e avô de sete netos.
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ÍNTEGRA DO DISCURSO DO HOMENAGEADO, LIDO PELA FILHA ANA CAROLINA SEYBOTH
Hoje é um dia especial. Não apenas pelo ato em si, não apenas pelo protocolo, mas pelo sentido que ele carrega. Estamos aqui para reconhecer uma vida que se entrelaça com a história desta cidade.
Eu fiquei incumbida de fazer a leitura do discurso do meu pai para vocês. Então, agora, vou abrir as aspas e iniciar o relato de uma visão de vida!
“Tenho oitenta anos — completados ontem. É quando a gente percebe que já tem mais passado do que futuro, mais lembranças do que expectativas, e que é hora de agradecer.
Minha história começa longe daqui. Nascido na Alemanha, em 28 de outubro de 1945, num país ainda em ruínas da guerra. A minha vida recomeçou muitas vezes, até que, em 27 de dezembro de 1953, eu cheguei menino à então Vila General Rondon.
Não cheguei a uma cidade pronta — cheguei a um projeto. Tudo estava por fazer. Aqui, os pioneiros abriram picadas, ergueram casas, ergueram instituições, plantaram futuro.
Foi nesse ambiente — mais próximo do passado do que do futuro — que aprendi o valor de cada passo, de cada mão dada, de cada noite virada para que o dia seguinte existisse.
Ainda criança, parti para o Internato Concórdia, em Porto Alegre. Foram anos duros. Sem telefone, sem correio, as comunicações por radioamadores e visitas para a família apenas nas férias, vindo em pequenos aviões que pousavam no interior do Paraná. Éramos sete meninos — a Turma do Paraná: Eu, o Dieter Seyboth, o Matias Seyboth, o Vitor Hugo Borgmann, o Walmor Nied, o João Pedro Hoffmaeister e o George Niederauer. Criamos uma fraternidade que me sustenta até hoje.
Depois, São Paulo. O choque de uma cidade enorme. A solidariedade fraterna para superar saudades, inseguranças, a carência de recursos e a pressão das mudanças. Dois anos de cursinho. E a aprovação para a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da USP.
No último ano da faculdade, fui atingido, em cheio, por um raio: conheci a Carolina. Uma mocinha linda que viria a marcar toda a minha vida. Ela aceitou, com generosidade que nunca esquecerei, vir comigo para um lugar sem asfalto, sem telefone, sem as facilidades de uma capital. Deu-me quatro filhos maravilhosos.
Voltei a Marechal Cândido Rondon em 1974. Voltei não por falta de opções. Voltei porque aqui estavam os meus. Porque aqui estava a minha cidade.
Aqui exerci a medicina — na clínica geral e na anestesiologia — e aqui vivi a dimensão mais bonita desta vocação: a de cuidar de pessoas. Não tratei casos; tratei gente. Gente com nome, história e família. Aprendi a ouvir. Aprendi a olhar nos olhos.
E estudei. Sempre estudei. Carreguei comigo, durante toda minha carreira, que a técnica precisa acompanhar o afeto. Trabalhei ao lado de colegas queridos, vários presentes aqui nesta noite — gente que acreditou que o interior pode ser referência. Obrigada por tanto tempo juntos!
Vivemos tempos duros na saúde, com crises, reestruturações, e decisões que exigiram criatividade e coragem. Foi quando introduzimos uma inovação trazida pelo Dieter. A ideia do convênio de assistência médica do Hospital Filadélfia – que virou Sempre Vida, e que, por décadas, sustentou operações, investimentos e incorporou outros serviços de saúde da cidade. Se algo aprendi na gestão em saúde é que instituições sólidas protegem a comunidade.
Também vivi o associativismo. No Lions, onde tenho a alegria de ser o membro mais antigo, aprendi que cidadania é constância — não espetáculo. Que organizar pessoas é mais forte do que agir sozinho.
Hoje, ao receber o Título de Cidadão Honorário, volto ao menino que aqui chegou. Volto aos meus pais — Dr. Seyboth e D. Ingrun — que ajudaram a erguer o primeiro hospital do Oeste do Paraná. Volto aos amigos de internato, aos colegas de universidade, aos companheiros de plantão, a cada paciente que confiou em mim.
Agradeço à Câmara Municipal pelo gesto que me emociona e me responsabiliza. Agradeço aos autores da proposição, Juca e Arion, pela deferência. Agradeço aos colegas médicos, às equipes de enfermagem que estiveram ao meu lado, aos profissionais de apoio que nunca deixaram a peteca cair quando o plantão apertava e a cidade precisava de nós.
Agradeço aos meus filhos — Ana Carolina, Ricardo, Ana Cecilia e Eduardo — e aos meus netos que chegaram para ensinar que o futuro tem o rosto das crianças. Agradeço, sobretudo, a Carolina — que organizou a vida, acolheu as ausências, e transformou cada dificuldade em horizonte. Você é o amor da minha vida!
Se me permitem uma palavra aos mais jovens: estudem. Encontrem uma causa. Cuidem das instituições. A cidade precisa de vocês — sempre. E, quando a vida exigir uma decisão difícil, lembrem: o interior do Brasil também é lugar de excelência, de ciência, de oportunidades e de humanidade.
Encerrando, digo com serenidade: não há honraria maior para um imigrante do que ser abraçado pela cidade que escolheu. Marechal Cândido Rondon não é apenas o lugar onde morei. É a cidade que me construiu — e que eu pude, com tantos, ajudar a construir. Recebo este título como quem recebe um abraço. Da cidade para mim. E de mim para a cidade. Muito obrigado.”
 
								