“A falta de consenso entre as leis municipais, estaduais e federais é um entrave”, diz Silva. “O órgão de uma administração libera uma obra, mas esbarra em licença de outra esfera.”

Um projeto para a construção de uma orla de quase dois quilômetros está em fase de licenças ambientais.

Para quem procura mais contato com a natureza, a Guaíra Experience, uma agência local, oferece o aquatur, um passeio de caiaque de três horas pelo rio onde é possível observar a fauna e flora locais, além de banho nas águas do Paraná. O projeto é apoiado pela Itaipu.

Para os mais aventureiros, a cidade é o destino final da Rota dos Pioneiros, trilha intermodal -caminhada, bicicleta e caiaque- que parte do Parque Estadual do Morro do Diabo, em São Paulo, pelo rio Paranapanema e depois pelo Paraná, em um trajeto total de 388,8 km. A rota segue o “Êxodo Guairenho” de 1631, quando cerca de 12 mil guaranis deixaram as missões jesuíticas em 700 embarcações fugindo dos bandeirantes paulistas.

No âmbito regional, a Adetur promove projetos para desenvolver outros municípios também banhados pelo lago de Itaipu. A ideia é que o turista que vá a Foz do Iguaçu passeie também por outras cidades, tendo Guaíra como destino final.

“Há demanda por locais para motorhomes”, conta Moraes, da Adetur. Algumas cidades, como Missal e Itaipulândia, já contam com esses espaços, diz.

Em Guaíra, os caravaneiros, como são chamados os adeptos da casa sobre rodas, podem ficar em uma área do Centro Náutico Marinas administrado pela prefeitura. Ao custo de R$ 58 por dia, têm acesso a estacionamento, banheiros e pontos de água, luz e esgoto.

ITAIPU CUIDA DE ESTRADAS PARA EVITAR ASSOREAMENTO

Com seus 1.350 km² de área alagada, o lago de Itaipu, o sétimo maior do Brasil, demanda um monitoramento constante para evitar que o assoreamento afete a produção de energia pela hidrelétrica.

A vida útil da usina é hoje estimada em 184 anos. Ariel Scheffer, superintendente de Meio Ambiente de Itaipu, afirma que cada ano perdido para o aporte de sedimentos na usina representaria de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões em energia que deixaria de ser gerada para o Brasil e o Paraguai.

Os projetos da Itaipu para evitar o depósito de sedimentos na área de usina vão de reflorestamento de matas ciliares e recuperação de nascentes a adequação de estradas e orientação a produtores rurais.

Quando foi formado, o lago inundou áreas já desmatadas e que eram usadas para agricultura, portanto acabou sem mata ciliar em grande parte de suas margens. Um trabalho de plantio de árvores foi iniciado para a criação de uma faixa verde em toda a extensão e em rios que o abastecem. Até o ano passado foram plantadas 24 milhões de mudas do lado brasileiro.

No lado paraguaio, a estimativa é que outras 20 milhões de mudas tenham sido plantadas.

Hoje, a mata que circunda o lago forma o Corredor Ecológico Santa Maria, uma faixa de vegetação que conecta o Parque Nacional do Iguaçu ao Parque Nacional da Ilha Grande. Estudos já mostraram onças-pardas transitando entre os parques pelo corredor.

“Cada vez que restauramos mata ciliar, e às vezes um fragmento florestal que estava desconectado [de outros] e nós o conectamos com a beira do rio, estamos propiciando o corredor. Nós aumentamos a floresta da região, em vez de ter diminuído”, afirma Scheffer.

Um inventário recente contratado por Itaipu indicou identificou 29 espécies de aves migratórias, inclusive o bacurau-norte-americano, apenas no Refúgio Biológico Bela Vista, área vizinha à zona urbana de Foz do Iguaçu.

Uma outra pesquisa, ainda segundo Itaipu, identificou que a dispersão de sementes por morcegos no Refúgio, caso fosse feita pelo homem, custaria R$ 14 mil por dia. A Itaipu patrocina estudos como esse para avaliar se os animais presentes nas áreas de mata já são suficientes para manter a floresta em pé, a partir da disseminação natural de sementes e polinização de flores, de modo que não seja mais preciso gastar com o plantio de mudas na região.

Hoje, Itaipu tem 101 mil hectares de áreas protegidas no Brasil e no Paraguai, incluindo oito reservas e refúgios biológicos em ambos os países, que somam 45 mil hectares. O restante corresponde à faixa de proteção do reservatório.

CRONOLOGIA DAS SETE QUEDAS

1525 – O espanhol Aleixo Garcia, percorrendo os caminhos de Peabiru em direção aos Andes, faz o primeiro registro do que seria posteriormente chamado de Sete Quedas. É considerado o primeiro europeu a ingressar no território onde hoje é Guaíra (PR)

1554 – Espanhóis fundam a Ciudad Real del Guayrá, uma vila militar na foz do rio Piquiri, a cerca de 20 km em linha reta de onde eram as Sete Quedas

1631 – O padre Ruiz de Montoya, naquela que é considerada a maior fuga não militar da história, passa pela região com cerca 12 mil índios guaranis que deixaram missões jesuíticas próximas de onde hoje fica o Parque Estadual do Morro do Diabo (SP) fugindo dos ataques de bandeirantes paulistas

Década de 1880 – Fundação da Companhia Matte Laranjeira, que passa a explorar erva mate no Mato Grosso do Sul e a enviar a produção para Buenos Aires pelo rio Paraguai, cruzando o país vizinho

1902 – A empresa instala um porto logístico no local onde hoje é a cidade de Guaíra e passa a enviar a erva-mate a Buenos Aires pelo rio Paraná, para fugir das taxas impostas pelo Paraguai. O local passa a contar com água encanada, uma usina termoelétrica e casas com saneamento para os funcionários da empresa

1917 – Início da operação de um trem da companhia para transportar a produção por terra no trecho não navegável das Sete Quedas

1944 – O presidente Getúlio Vargas estatiza propriedades da Companhia Matte Laranjeira e cria o Serviço Nacional da Bacia do Prata para realizar as operações

1951 – Emancipação de Guaíra, que passa a ser município

Início dos anos 1960 – Com o declínio do ciclo do mate, o Serviço Nacional da Bacia do Prata deixa de operar

1966 – O presidente militar Castelo Branco assina o decreto autorizando a submersão das Sete Quedas para a formação da usina de Itaipu

1979 – Avanço do projeto intensifica o fluxo de turistas em Guaíra, que chega ao auge nas vésperas do fim das cachoeiras

17.jan.1982 – Desabamento de uma passarela sobre um salto das Sete Quedas mata 32 turistas

27.out.1982 – Em apenas 14 dias após o fechamento das comportas de Itaipu, a represa é formada, engolindo as Sete Quedas

5.mai.1984 – Início da operação da usina de Itaipu