Suspeitas de fraudes de engenheira ambiental presa no Paraná causaram derrubada de 300 mil metros quadrados de mata nativa

Elisa Caroline Soares — Foto: Redes sociais

A engenheira ambiental Elisa Caroline dos Santos é suspeita de fraudes em licenciamentos que causaram a derrubada de cerca de 300 mil metros quadrados de Mata Atlântica — o equivalente a 42 campos de futebol. Ela foi presa na quarta-feira (1º), em Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC).

Segundo a Polícia Civil (PC-PR), Elisa inseria informações falsas e omitia dados em pedidos de Dispensa de Licenciamento Ambiental, sistema online do Instituto Água e Terra (IAT) criado para autorizar atividades de baixo impacto, como corte de grama, jardinagem e retirada de vegetação rasteira.

Com o esquema, conseguiu liberar mais de 240 dispensas irregulares em cinco anos.

Em um dos pedidos, a engenheira declarou que faria apenas limpeza em um terreno, mas imagens de satélite revelaram o desmatamento de quatro hectares de Mata Atlântica.

Em outro, informou que faria serviços de paisagismo e poda, mas fiscais constataram uma terraplanagem de 3.800 m² com derrubada de vegetação nativa, incluindo Área de Preservação Permanente (APP).

O delegado Guilherme Dias, que conduz o caso, explicou que clientes buscavam a engenheira para conseguir autorizações de empreendimentos.

“As pessoas perguntavam: ‘quero construir uma casa nessa região, você consegue [o licenciamento]?’. Ela ganhava com a contratação desses serviços”, disse.

Elisa é investigada por crimes como fraude em licenciamento ambiental, desmatamento e inserção de dados falsos. A defesa dela nega as irregularidades.

“A Elisa é uma engenheira já há bastante tempo, muito conceituada no mercado, bem atuante, responsável. Essa informação pegou a todos de surpresa […] Acreditamos na inocência dela, em razão de todo o histórico que ela tem na sua carreira”, disse a advogada Darcieli Bachmann Duro.

Antes e depois da área danificada — Foto: PCPR

Sistema online de licenciamento
O sistema autodeclaratório de licenciamento ambiental foi criado em 2019 e vale para todo o Brasil. No Paraná, em 2024, a Assembleia Legislativa aprovou mudanças que ampliaram o uso da ferramenta, permitindo que empreendimentos de baixo potencial poluidor também possam solicitar autorização pela internet.

Deputados que apoiaram a lei afirmam que a mudança torna o processo menos burocrático. Para o pesquisador Tiago Mafra, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), no entanto, é preciso mais controle.

“Uma pessoa que vai construir um empreendimento de alto impacto, com desmatamento, não pode se autodeclarar isenta do licenciamento. Então, pra gente controlar isso, tem que haver um processo de fiscalização do estado invista nesse controle, para acompanhar o processo e rito do licenciamento ambiental, que é muito ambiente para a preservação do meio ambiente”, disse.

Prisão
De acordo com a investigação, a engenheira liberava a construção de condomínios de luxo e empreendimentos em áreas de proteção ambiental e até em reservas hídricas, o que colocava em risco nascentes responsáveis pelo abastecimento da região de Curitiba.

A polícia afirmou que a mulher inseria informações e documentos falsos no sistema, chegando a usar nomes de pessoas falecidas para liberar obras.

Na manhã de quarta-feira (1º), Elisa foi presa em uma operação deflagrada pela Polícia Civil (PC-PR), em Campo Largo.

Além dela, a operação cumpriu mandados de busca e apreensão contra outros seis profissionais investigados. Um deles foi preso em flagrante. A polícia agora apura se os clientes sabiam das irregularidades.

Ainda segundo a polícia, a suspeita faturou mais de R$ 2 milhões com os licenciamentos fraudulentos.

Engenheira Elisa Caroline Soares foi presa suspeita de fraudar mais de 230 licenciamentos ambientais. — Foto: Redes sociais

Nas redes sociais, Elisa postava conteúdos em defesa do desenvolvimento sustentável e do cumprimento das normas ambientais.

Em uma das postagens, ela afirmou que a realização de vistorias técnicas em terrenos rurais “é essencial para o planejamento de empreendimentos e desenvolvimento sustentável”. As publicações também respaldaram o inquérito sobre o caso, conforme a polícia.

“Essas análises permitem identificar características do solo, vegetação, recursos hídricos e áreas de preservação, garantindo que os projetos sejam desenvolvidos de forma responsável e em conformidade com a legislação ambiental vigente, protegendo Áreas de Preservação Permanente (APP), de Preservação Ambiental (APA), Reserva Legal, por meio da elaboração de projetos técnicos compatíveis com a realidade local e aptos ao deferimento em processos de licenciamento ambiental”, escreveu Elisa em 17 de setembro.

No dia 18 de junho deste ano, Elisa publicou que o licenciamento ambiental é obrigatório para empreendimentos imobiliários no Paraná.

“Regularize seu empreendimento com responsabilidade técnica e segurança jurídica”, escreveu.

Engenheira Elisa Caroline Soares foi presa suspeita de fraudar mais de 230 licenciamentos ambientais — Foto: Redes sociais